A virgindade aos 38 anos é um tremendo problema para Mark O'Brien (John
Hawkes), como seria para qualquer outro homem no mundo. Mas para Mark
há um enorme complicador adicional. Vítima de poliomielite aos 6 anos,
ele vive com pouquíssima mobilidade, atrelado quase as 24 horas do dia a
um pulmão de aço que garante sua sobrevivência.
A descoberta de uma terapeuta sexual, Cheryl (Helen Hunt), abre uma
perspectiva de vida nova para Mark. Esta delicada aventura íntima de um
homem extraordinário está no centro da comédia dramática "As sessões",
do diretor polonês radicado nos Estados Unidos Ben Lewin. O filme
recebeu uma indicação ao Oscar, como melhor atriz coadjuvante para a já
premiada Helen Hunt.
Esquivando-se de muitas armadilhas em que o enredo, adaptado pelo mesmo
Lewin de um relato publicado pelo verdadeiro Mark O'Brien, poderia
derrapar, especialmente no plano melodramático, o filme é surpreendente
de várias maneiras. A primeira, certamente, é não ter um protagonista
convencional e que, numa situação absurdamente limitante, consegue ser
espirituoso e divertido.
Num papel que o obriga a ficar permanentemente deitado, John Hawkes
(indicado ao Oscar 2011 por "Inverno da alma") supera-se no uso do rosto
e da voz, materializando a figura de um homem sensível e que faz o
máximo uso de sua inteligência.
Inclusive, cursando a universidade e escrevendo artigos para a
imprensa, mediante o uso de uma pequena vareta e um teclado, para o que
ele deve usar sua boca, já que não pode movimentar-se sem ajuda.
Nessas condições, Mark torna-se um dos clientes mais desafiadores para a
terapeuta sexual Cheryl Cohen (Helen Hunt), igualmente baseada numa
personagem verídica.
Sua atuação profissional é um tanto peculiar: ela não realiza sessões
de fala e sim participa diretamente de exercícios corporais e,
inclusive, sexo com o cliente. Ainda que o tratamento, para evitar
mal-entendidos e envolvimento, tenha seu número de sessões rigorosamente
limitadas.
O clima alto-astral é mantido pela opção de humanizar completamente
seus dois protagonistas -com direito a incluir as dúvidas pessoais da
própria Cheryl-, fornecendo uma visão não-piedosa do universo das
pessoas deficientes e não-moralista do sexo em geral.
Outra ajuda providencial chega pelas intervenções de um coadjuvante na
história, o padre Brendan (William H. Macy). No papel do confessor de
Mark, o religioso despreza as ortodoxias da doutrina, transformando-se
num incentivador de uma experiência vital para o outro, ainda que a
Igreja a considere, a rigor, um pecado mortal.
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