Poucos personagens do terror contemporâneo conseguiram tanta
notoriedade quanto Leatherface, o assassino psicótico do clássico de
Tobe Hooper, "O massacre da serra elétrica" (1973). Membro de uma
família doentia, que canibalizava azarados que chegassem perto de suas
propriedades, Jed (nome de infância) tinha também o requinte de costurar
a pele de suas vítimas no rosto para disfarçar suas imperfeições.
"O massacre da serra eletrica 3D: A lenda continua", como o título
indica, trata da continuação do primeiro filme, a partir dos
acontecimentos seguintes à fuga da única sobrevivente. Curiosamente,
Hooper utiliza no início os trechos do filme original e não de sua
refilmagem, para situar o espectador no espaço e no tempo. Fato que
torna tudo um tanto saudosista, apesar de estar em 3D.
Apesar de irregular, a produção foi um sucesso estrondoso na década de
1970 pela competência de Hooper. Ele trouxe recursos mais experimentais
ao gênero, criando uma ambientação e efeitos que seriam amplamente
copiados por outros cineastas, em especial, a tensão narrativa desde os
créditos iniciais. Além disso, o diretor apresentou toda a história como
verídica, causando um frenesi no público.
O sucesso trouxe, claro, a oportunidade de transformar a produção em
uma rentável franquia. Porém, sem a essência de inovação ou mesmo o
charme do limite orçamentário, as sequências lançadas ao longo das
décadas seguintes foram, no fim, grandes equívocos.
Mesmo os filmes que apenas aproveitaram descaradamente a fama de
Leatherface, como "O massacre da serra elétrica - O retorno" (com Renée
Zellweger e Matthew McConaughey), em 1994, caíram no esquecimento pela
falta de qualidade.
Não seria o caso de acreditar na exaustão do argumento e do seu
personagem principal? Não para Tobe Hooper, que a partir de 2003 dá
início a uma nova franquia literalmente do zero. Além da refilmagem do
original (2003), produz também "O massacre da serra elétrica: O início"
(2006), sobre a gênese de Leatherface, e agora "O massacre da serra
eletrica 3D: A lenda continua".
No novo filme, depois dos incidentes, a polícia cerca a casa da família
Sawyer e pede para que entreguem Leatherface. A população local, no
entanto, prefere a justiça imediata: queima a casa e atira nos
moradores. Apenas um bebê é poupado do linchamento, ao ser levado
secretamente por um casal que fazia parte do bando caipira.
Duas décadas se passam, até Heather (Alexandra Daddario, de "Percy
Jackson e o ladrão de raios") receber uma carta sobre a herança de uma
avó, da qual nunca ouvira falar. Criada em outro Estado, jamais foi
informada de sua verdadeira família, ou dos acontecimentos da década de
1970. Após confrontar os pais, agora sabidamente adotivos, parte para o
Texas com um grupo de amigos para investigar sua ascendência.
Ao chegar ao local, Heather recebe do advogado Farnsworth (Richard
Riehle) os papéis e a chave da mansão da família, sem saber que a avó
escondia um segredo "de sangue" no porão da casa. A trama então segue um
duplo conflito: se de um lado deve lidar com a insanidade de
Leatherface, de outro, deverá vingar sua família dos outros monstros que
a assassinaram.
Como são contratados por projeto, os diretores que assumem cada uma das
partes da franquia têm muito pouco a fazer com os roteiros que chegam
às suas mãos. O que parece importar aqui é fazer a série ir para frente,
mesmo que a história seja um tanto pobre e a emoção fique à frente da
lógica.
Tobe Hooper já anunciou o quarto volume do novo "Massacre da serra
elétrica", a partir do desfecho desta produção. A produção partirá de um
pressuposto um tanto absurdo, poderá comprovar o esgotamento da fórmula
e acampa equivocadamente uma imagem de que o gênero de terror vale
tudo. O erro de Hopper, enfim, lembra o do recruta que se imaginava o
único a marchar no passo certo.